Skip to content

Porque é que a moderação das emoções começa nos pais e se reflecte nos filhos?

Porque é que as crianças e os adolescentes não nos ouvem durante as birras e nos momentos de instabilidade emocional?

Porque é que a gestão consciente das emoções se dá quando começa nos pais e,  (por reflexo, pelos neurónios espelho) se reflecte nos filhos?

Porque para raciocinar, precisam de estar emocionalmente estáveis, em calma, mas o estádio de desenvolvimento do cérebro não está ainda preparado para o fazerem sozinhos. Precisam da calma do adulto.

A moderação das emoções dos filhos acontece quando começa nos seus pais.

São coisas do cérebro cujo desenvolvimento se completa por volta dos 25 anos.

Para entender a relação entre as emoções e a capacidade de tomar decisões racionais, há que saber que são trabalhadas em diferentes áreas do cérebro.

O córtex pré-frontal, aqui côr de laranja, a ultima área do cérebro a terminar de se desenvolver, é a área responsável por muitos processos cognitivos superiores e complexos, como a tomada de decisões, o raciocínio, a expressão da personalidade e a cognição social.

É a área do cérebro que planeia, define prioridades e toma decisões racionais.

Vemo-los na idade adulta mas não as vemos bem durante na infância ou na adolescência.

E é a área que nos ajuda a ter a capacidade de acalmar depois de passarmos por uma emoção forte de frustração e de raiva, para nos concentrarmos numa tarefa, ou para ter empatia e não agir por impulso ainda que nos apeteça.

E o que faz a amígdala cerebral?

Quando a emoção é forte, a amígdala cerebral sequestra o córtex, faz-lhe uma ultrapassagem pela direita, e assume o controlo do cérebro. O córtex pré-frontal torna-se inactivo e aquelas funções superiores são substituídas pelo modo primitivo ou de sobrevivência, que está a “dominar a situação”.

A pessoa está totalmente reactiva, deixou de agir para reagir.

Quando a amígdala está hiperactivada, a reação pode ser de luta, fuga ou paralisação, a que chamamos fight, flight or freeze.

Aparece  a ira, a agressividade, a impulsividade, a fuga ou a paralisação.

Cada um de nós tem, em maior ou menor medida, o que o Dr. Daniel Siegel chama “janela da tolerância”.

Exemplificando:

Eu posso ir trabalhar preocupada porque tenho muito trabalho e vou ter que render muito porque vou sair mais cedo; estou preocupada com a minha filha e a inserção dela na nova escola; sinto a ausência do meu marido que tem trabalhado até tarde quase todos os dias mas, ainda assim, controlo as minhas emoções.

Estou dentro da minha janela de tolerância.

Pode também acontecer ter dormido demasiadamente pouco nas últimas semanas, continuar com um trabalho excessivo, ter preocupações financeiras, e a minha mãe ter sido internada por um motivo grave.

Nesse caso, já não tenho um perfeito controlo sobre as minhas emoções, fico ansiosa, cansada com a privação de sono, obcecada com a saúde da minha mãe, e a pensar o que vai ser de mim sem ela. Facilmente me irrito, fervo em pouca água. A amígdala cerebral sequestrou o meu córtex pré-frontal, não estou calma e não penso com lucidez.

Estou “a mil”, e já saí da minha janela de tolerância.

E pode ainda acontecer que uma má noticia não esperada, um desastre de carro, ou outra circunstância cause em mim um medo que me faça sentir totalmente sem energia, congelada.

Isolo-me. Estou a zero à hora, e não estou presente no que faço.

Saí da minha janela de tolerância mas, desta vez, estou paralisada, congelada.

Siegel diz-nos que a janela de tolerância é aquela área de activação em que lidamos com as emoções de forma habilidosa, mesmo que estejamos tristes e/ou enervados.

Estamos dentro da nossa janela de tolerância, quando funcionamos num equilíbrio entre a emoção e a razão, ou entre a amígdala cerebral e o córtex pré-frontal.

Ao contrário dos adultos, que já têm o cérebro racional desenvolvido, as crianças e os adolescentes têm uma janela de tolerância pequena.

A sua área racional está-se em processo de desenvolvimento mas as áreas emocional e de sobrevivência estão fortemente desenvolvidas.

É por isto que, muito facilmente, os nossos filhos entram num estado emocional activado pela amígdala cerebral, ficando indiferentes, imunes, a qualquer argumento racional ou instrução nossa.

O que podemos então fazer, antes de mais?

Ajudá-los a regressarem à sua janela de tolerância, através da hetero-regulação emocional (uma vez que a auto regulação não acontece) .

Quando entendemos que as capacidades racionais das crianças e dos adolescentes ainda não estão totalmente desenvolvidas e que, sob fortes emoções, o córtex pré-frontal não pode agir, percebemos porque motivo os argumentos racionais não são úteis nesses momentos.

Nestas situações, os filhos precisam da nossa ajuda para voltar à sua janela de tolerância, através da calma que transmitimos

Se a criança deixar, damos-lhe o nosso afecto: abraçamos, pegamos ao colo, damos a mão …, porque o afecto físico é um excelente calmante que trava a feroz actividade da amígdala cerebral.

Vamos emprestar-lhes a nossa calma.

A nossa calma, será a calma dos nossos filhos.

Sem ajuda externa, podem sentir-se sobrecarregados pelas suas fortes e, a partir daí, terem reações agressivas, impulsivas ou paralisantes, revelando a sua incapacidade de lidarem da melhor maneira com as situações angustiantes ou frustrantes.

Pedir às crianças que se acalmem sem um apoio adequado, pode aumentar-lhes a  ansiedade, afetar o seu bem-estar emocional e, sem dúvida, o desenvolvimento social.

Quando fazemos este pedido?

Quando negamos ou invalidamos a emoção que estão a ter com frases do género Isso não é nada, Isso já passa, Os homens não choram, … 

Conter uma emoção (porque nos é negada ou invalidada) é pô-la numa panela de pressão, sendo certo que, mais tarde, vai explodir com uma força ainda maior. 

Quando a emoção estiver moderada, a partir da calma, será possível activar o raciocínio e a empatia. A amígdala cerebral já não controla a área racional e, a partir desse momento, podemos iniciar uma conversa!

Este é um poder dos pais, dos adultos.

O poder de acalmar o caos, de apagar o fogo, para ajudar os filhos a adquirirem critérios e autonomia que necessitam para a vida.

Back To Top