O meu filho não me ouve…
Quantas vezes falou com o seu filho e se sentiu ignorada(o)? Quantas vezes teve de repetir 2, 3, ou 4 vezes até o seu filho ouvir – se calhar já com um grito …
Repetir inúmeras vezes “lava as mãos”, “vai fazer os TPC”, “lava os dentes”, “tira os cotovelos da mesa”, e mais isto e mais aquilo, é muito frustrante, gera gritos e mal-estar.
É verdade que as crianças têm dificuldade em prestar atenção quando o tema não tem qualquer correspondência com a sua lista de prioridades, como é, por exemplo, ver TV ou outro ecrã.
Estará uma criança pequena interessada em levantar os pratos da mesa, se não houver um ambiente que a contagie? Ter o quarto arrumado estará nalguma lista de prioridades de um adolescente? Não creio.
Que podemos nós fazer?
Conectar antes, para ter êxito na transmissão da mensagem.
Dar instruções sem uma ligação visual e emocional, não vai resultar! Não fale duma divisão da casa para a outra!
Se o cérebro das crianças e dos adolescentes também (!) é predominantemente emocional, então, vamos previamente fazer a ligação emocional!
Como?
1. Ouça, de corpo e alma presente.
Aproxime-se e coloque-se no campo visual do seu filho, baixe-se ao nível dos seus olhos. Faça o seu melhor contacto visual e espere que a criança olhe para si. Tocar no ombro pode ajudar.
2. Tenha em conta o que o distrai.
Pode aproximar-se dele e dizer Este filme é muito giro … apagas a TV e vens comigo e contas-me o que está a acontecer? Ou, Vou parar o filme um bocadinho para que me ouças, ou ainda pegar-lhe na mão e dizer-lhe, Vem, quero-te dizer uma coisa enquanto o leva para um sitio mais calmo.
3. Diga o que quer dizer com calma, amabilidade e firmeza.
Se tiver duvidas, ou para evitar que se esqueça, pode pedir-lhe para confirmar o que lhe disse, mas evite ser “chato”. Se não tiverem ainda falado sobre o assunto ou se for bom relembrar, converse com a criança, ouça-a e chegue a um acordo com uma solução que seja respeitosa para todos. O que ficar combinado, será o que deverá ser feito.
4. Comunique a sua expectativa com muita clareza e diga o que fará caso a criança não faça o combinado.
Não implore, não castigue, não dê um sermão. Lembre-se que fazer advertências contínuas, ou gritar, tem exatamente o efeito de afastar a atenção do seu filho.
A ideia não é fazê-lo pagar pelas suas ações ou fazê-lo sentir-se mal. A ideia é, usando empatia, deixar acontecer a consequência natural ou fazer o que lhe disse antes que iria fazer.
5. Deixe acontecer a consequência natural.
A consequência natural de não pôr a garrafa com água no frigorífico será não ter água fresca para beber na praia; a consequência natural de deixar as bonecas no pátio sem as arrumar, é ficarem molhadas se chover; a consequência natural de não querer comer mais quando lhe disse que iam sair, que não ia levar comida e que provavelmente terá fome porque comeu pouco e ainda assim a criança não comer mais, será ter fome.
As consequências naturais, fruto das decisões por eles tomadas, são uma grande oportunidade para entenderem que, se fizerem ou deixarem de fazer certas coisas, vão ter um resultado do qual podem não gostar.
Eles próprios se apercebem de que têm o poder de decidir as suas próprias ações e os efeitos e resultados das mesmas.
Mas nem sempre é possível deixar acontecer a consequência natural. Há limites insuperáveis, porque vão contra a saúde, a segurança ou o respeito pelos outros.
Não podemos deixá-los experimentar atravessar a rua sem dar a mão quando são pequenos, não devemos permitir uma alimentação baseada em doces e chocolates, e não podemos não corrigir, num momento de calma e da forma adequada, uma falta de respeito.
6. Faça
Cumpra o que disse. Mantenha-se firme. Dê valor à sua palavra. Se estão no parque ou no jardim e chegou a hora de regressar a casa e a criança não quer, mostre que percebe como seria bom continuar; seja afectuoso e firme. Pegue na criança ao colo ou dê-lhe a mão num gesto, não demasiadamente amável nem demasiadamente firme como quem diz se não vais a bem, vais a mal. Regresse. Se redireccionar a atenção, com uma ideia agradável, melhor ainda!
7. Mostre o seu apreço e tente reparar!, todas as vezes que o seu filho tenha uma atitude positiva ou se esforce por a ter.
Frases como Vi como te esforçaste em arrumar as coisas (mesmo que não esteja perfeito, devagar se vai ao longe) ou Podes estar orgulhoso de ti pela ajuda que deste à tua irmã ou Reparei no teu esforço em pôr bem os pratos na mesa têm um óptimo resultado a longo prazo. Um gesto carinhoso, um simples piscar de olho ou um beijo, também fazem maravilhas!
Frases do género Já era tempo!, Nunca fazes à primeira, poderão ter uma eficácia imediata mas a longo prazo não a têm!
8. Seja o melhor exemplo que conseguir.
Quando o seu filho, ou qualquer pessoa, falar consigo tire os olhos do telefone, do computador, da TV ou do que estiver a fazer, e mostre ser um bom ouvinte.
Ouça o seu filho “com os olhos”. Se quer ensinar o seu filho a saber ouvir, mostre verdadeiro interesse no que ele tem para lhe dizer.
Lembre-se: o que para si não é importante, para ele é “o” importante, ao menos nesse momento.
As crianças aprendem mais por observação e por imitação, do que por muitas coisas que lhes diga, e saber ouvir é uma das habilidades mais valiosas que pode ensinar aos seus filhos pois ajudá-los-á a construírem relações sólidas e saudáveis ao longo da vida.

