O Poder da Conexão antes da Correcção
Se os pais soubessem …
Jane Nelsen, cofundadora da Disciplina Positiva, psicóloga e mãe de sete filhos, afirmou
A única ferramenta da Disciplina Positiva que eu gostaria de ter usado de forma mais consistente é a “Conexão antes da Correção.“
Sabemos hoje, graças aos estudos neurológicos do cérebro humano, que as crianças aprendem, desenvolvem capacidades, crescem em autonomia e confiança para enfrentar os problemas da vida, quando vivenciam uma forte ligação emocional com os seus pais.
Alfred Adler e Rudolf Dreikurs, fundadores da Psicologia Individual, definem essa conexão como “Um profundo sentimento de pertença e de importância” o que se traduz, de modo resumido, em sentirem-se ouvidas e valorizadas.
Está nas mãos e nos corações dos pais criar esta ligação, amar cada filho na sua individualidade, para lhe poderem estimular todo o seu potencial.
Como diz Jane Nelsen, só podemos influenciar as crianças de maneira positiva quando criamos uma boa conexão.
É preciso que exista um sentimento de segurança e de abertura.
É algo do cérebro, e do coração.
Sempre que for necessário, as vezes que forem precisas, devemos parar de lidar com o mau comportamento, “curar” a relação e, então corrigir.
A neurociência explica que todas as crianças comunicam primeiramente através das emoções, e que, para vivermos e prosperarmos, todos precisamos de vínculos emocionais saudáveis.
Jane Nelsen alerta-nos que, o modo mais eficaz para fortalecer a ligação com a criança não é fazermos o que ela é capaz de fazer sem nós, nem satisfazer-lhe os seus caprichos. Entrar no mundo da criança e partilhar actividades serão as melhores formas de o conseguir.
Os vínculos saudáveis trazem felicidade à família e dão aos nossos filhos a segurança emocional de que precisam para, mais tarde, enfrentarem a vida felizes e com alegria de contribuir.
Contudo, as pessoas que viveram a sua infância e adolescência em ambientes de culpa e de castigo, poderão ter maior dificuldade em conseguir esse padrão relacional que conduz a vínculos fortes com os filhos, porque ao não terem vivido relações vinculadas falta-lhes saber como o fazer. Como resultado, a ligação entre pais e filhos poderá ser oscilante ou fraca.
Que passos se podem dar então, para conseguir criar esses laços felizes com os filhos e largar o padrão educativo recebido?
Ou, talvez apenas, fazermos melhor o que já fazemos?
Algumas reflexões:
- Distinguir a pessoa do seu comportamento
O mau comportamento acontece, parte das vezes, simplesmente porque a criança está a vivenciar uma forte emoção e não sabe, ou não lhe foi ensinado, a moderar a emoção.
As crianças são excelentes observadoras mas são más interpretes da realidade, devido à imaturidade cerebral e à falta de experiencia de vida.
É assim que constroem crenças erradas como é o caso bem conhecido, de concluir o do irmão que concluiu que os pais gostam mais do bebé que acabou de nascer – que ainda por cima não sabe fazer tantas coisas que eu já faço – pelo facto de lhe darem muito maior atenção.
Este ciúme, ou qualquer outra crença, é detonadora de maus comportamentos.
O seu filho é diferente dos comportamentos que adopta.
Nos Workshops, os pais aprendem a perceber qual é a crença errada por trás dos maus comportamentos dos filhos.
Então, e antes de mais, evite corrigir sem antes entrar no mundo do seu filho!
Repare que as frases que o usam o nunca e o sempre, e o és como Estás sempre a atrasar-te … Nunca deixas o teu irmão brincar …, És preguiçosa, És mau – equivalem a colocar etiquetas que causam um impacto negativo no autoconceito da criança, são desanimadoras e criam distancia.
As crianças acreditam no que lhes dizemos sobre elas, e constroem a sua autoimagem através do que ouvem de nós!
Se o que queremos é encorajá-las e motivá-las a desenvolver as suas capacidades, devemos ser cuidadosos com o autoconceito e a autoestima.
- Escutar
Ouça com os olhos, (esqueça o telemóvel, o computador ou o que fôr e olhe para o seu filho, esteja presente, preste atenção, tente entender, reflicta.
Páre e foque-se no que o seu filho lhe está a dizer.
Se nesse momento não puder, é melhor dizer-lhe dentro de quanto tempo o pode ouvir (se for pequenino, diga o tempo de a criança fazer uma ou duas actividades, por exemplo) porque quer ouvi-lo bem, com calma e nesse momento não consegue.
Quando chegar o momento, vá ter com ele e pergunte-lhe o que lhe queria dizer.
Lembre-se de que, quando não lhes damos atenção e conversamos pouco ou nada com eles, eles procurarão as respostas nos amigos ou na internet. E, o certo é que, ninguém lhes dará uma resposta tão acertada e com tanto amor, como a sua.
- Validar as emoções
Reconhecer, dar um nome às emoção, de raiva, frustração, irritação, vergonha, medo, tristeza, alegria, tranquilidade, etc., ajuda a validar essa emoção forte que a criança está a viver e a fazê-la perceber que uma emoção negativa não faz dela uma má pessoa.
E a partir daqui, ensinar-lhe que o importante é o que vai fazer com essa emoção, porque se é natural sentir raiva, já não é legítimo, não pode, bater!
Se nós, adultos, nos sentimos valorizados quando sentimos que alguém compreende o que estamos a sentir, o mesmo acontece com os nossos filhos.
Imagine que procurou uma amiga para desabafar mas ela abafou, negou ou minimizou a sua tristeza, sentimento de injustiça ou outra emoção e, em vez disso, saiu-se com um rol do que tem que fazer.
Sinceramente, vai ter vontade de procurar esta sua amiga numa próxima vez que se sinta mal?
Empatize. Se tiver vivido uma história semelhante, conte-a ao seu filho e diga-lhe o que sentiu.
Sempre que partilhamos, a conexão aumenta, e as crianças ganham vontade de ouvir depois de se sentir escutadas.
- Fazer perguntas de curiosidade
Se forem feitas genuinamente, as perguntas de curiosidade, abrem-lhes o coração e a mente para pensarem e explorarem as consequências das suas escolhas.
Podem ser exemplos:
O que podes fazer para não te esqueceres de arrumar a casa de banho a seguir ao banho? O que podes preparar à noite para não te atrasares para as aulas? Como podes resolver este problema com o teu irmão de uma forma respeitosa? O que é preciso fazer para teres dentes saudáveis? Que truque vais usar para não te esqueceres de os lavar? Como estás a pensar organizar o estudo para que te sobre algum tempo para ti?
- Abraçar
Um abraço é um calmante natural, é reconfortante e dá-nos energia para continuar. Abrace muito, e mais ainda quando as emoções fortes vierem ao de cima.
Contudo, não force.
Se o seu filho aceitar o abraço, deixe-o ser ele a terminá-lo; fá-lo-á quando já se sentir bem, ou melhor.
- E, quando ambos estiverem calmos, foquem-se, juntos, nas possíveis soluções e optem por praticar uma solução que seja respeitosa para todos.
Ao perguntar ao seu filho que soluções vê para resolver a situação, está a fazê-lo pensar e, provavelmente, a responsabilizar-se.
Se ele tiver uma solução que seja respeitosa e for essa a solução escolhida, o facto de a ideia ter sido dele irá motivá-lo a esforçar-se com muito mais vontade do que se a ideia tiver sido imposta por si.
Habitue-o a resolver as situações e a procurar soluções para os erros. É uma capacidade que lhe vai ser útil para a vida, muito mais eficaz do que retirar-lhe recompensas que cortam a ligação entre ambos.
- Mostrar o quanto gosta dele(a), por palavras, por olhares, por carícias, por mensagens, como quiser…
Sabia que três minutos de carinho ao acordar, ao ir buscar à escola (ou quando chega) e ao deitar, são nove minutos de amor em três momentos cruciais para o desenvolvimento emocional do seu filho?
Ter tempo de qualidade a sós com cada filho
Dez minutos a fazer com o seu filho o que ele gosta, sem telemóvel por perto que lhe dá a ideia de que algum telefonema ou mensagem pode ser mais importante do que ele, é a melhor forma de dizer amo-te, ouço-te, estou aqui para ti.
Além disso, este tempo especial de dedicação individual, é excelente para diminuir os ciúmes entre irmãos que são, por vezes, detonadores de zangas entre eles.
- Contar histórias nossas e da família
Eles adoram!
Qual é o filho que não gosta de saber como era a infância dos pais, ao que brincavam, as histórias divertidas, como eram os avós e como eram os tios, o que faziam nas férias, os acontecimentos marcantes da família?
- Corrigir
Como adultos, temos a responsabilidade de modelar o nosso comportamento se quisermos que os nossos filhos controlem adequadamente o deles.
Não nos surpreendamos se, antes de corrigir, sentirmos a necessidade de nos retirarmos por um momento e fazer algo que nos faça sentir melhor para podermos, de seguida, agir como convém com os nossos filhos.
Façamo-lo. Digamos mesmo aos nossos filhos que precisamos dum momento para enfriar a nossa emoção para poder pensar racionalmente.
É uma boa prática, e é um bom exemplo também.
A seguir, será muito mais fácil escutar, validar as emoções do seu filho, empatizar, procurar com ele as possíveis soluções.
Havendo conexão, a correcção respeitosa – que é pensar com eles nas causas, nas consequências naturais das opções, e escolher com eles a melhor solução – é muito mais construtiva do que um castigo, um grito, uma ameaça ou um Vai pensar para o quarto! que não ensinam qualquer habilidade para a vida, e estimulam o ressentimento, a rebeldia, a indiferença, a mentira ou a vingança.
Alguns pais têm dificuldade em lidar com esta ideia, pois entendem que não faz sentido ouvir e empatizar com uma criança que se portou mal.
Mas, não: longe de premiar o mau comportamento, está a criar as condições para que a sua correcção seja ouvida e aceite pelo seu filho e tenha êxito ao ensinar as qualidades que quer que tenha.
Convido-o(a) a procurar momentos e formas de aumentar a conexão com seus filhos; a criar relações sólidas e fortes.
Elas vão ser a base sobre a qual vai educar a longo prazo!
A base para ter filhos autónomos, felizes, responsáveis e participativos!

